Larry Flint, conhecido pornógrafo americano, disse numa entrevista que a “liberdade só é liberdade se for absoluta” ( Isto é, 12/03/1997).


Na prática, assim como a afiação exagerada embota o fio da navalha a ausência de limites conduz, inexoravelmente, a uma forma de tirania.

Consideremos apenas três aspectos: o político, o econômico e o sexual.

No âmbito político, é sabido que o poder Executivo, por exercer o comando do aparelho administrativo do Estado, tem uma força colossal, pois é a fonte, não só de favores, mas também de perseguições e pressões econômicas. Se não for contrastado pelo Legislativo e pelo Judiciário, acaba entronizando um ditador ou, na melhor das hipóteses, um déspota esclarecido. Montesquieu nunca usou a expressão clássica “ separação dos poderes”, mas a lição que deixou é que só essa separação impede o abuso de qualquer deles.

No campo econômico, num mundo regido pelo liberalismo, a humanidade geme sob a opressão de um poder econômico desmedido. Chegamos a tal extremo de concentração da riqueza, que a Organização das Nações Unidas constatou que trezentos e cinqüenta e oito indivíduos, os maiores milionários do planeta, acumularam uma riqueza que equivale a tudo quanto possui a metade da população mundial.

No domínio sexual, uma liberdade sem limites nada mais é que a utopia imaginada pelo Marquês de Sade (1740-1814), na qual todos têm direito a todos, onde os seres humanos, reduzidos a seus órgãos sexuais, tornam-se absolutamente anônimos e intercambiáveis. O prazer passa a ser o único objetivo da vida, mas não se distingue do estupro, dos assassinatos, da agressão gratuita.

Como assinalou Christopher Lasch, “em uma sociedade que reduziu a razão a mero cálculo, esta pode deixar de impor limites à busca do prazer, à imediata gratificação de todo o desejo, não importando quão perverso, insano, criminoso ou simplesmente imoral.” (A cultura do narcisismo, Rio de Janeiro, Imago, 1983).

Os jovens que, há alguns anos, em Brasília, queimaram e mataram um índio pataxó, na avaliação da psicanalista Graça Pizá, “agiram pelo prazer de uma aventura e movidos pelo desejo” (Jornal do Brasil, 14/04/1997).

A crescente maré da violência, em nossos dias, é o reflexo de uma sociedade em que predomina o individualismo. A solidariedade vem sendo, cada vez mais, substituída pelo egoísmo e pela satisfação mórbida dos desejos mais primitivos do ser humano.

 
 

Autor: Prof. José Lisboa Mendes Moreira

 
 

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19/09/2014