“ O escapismo insidioso da viagem espacial é a última expressão da psicologia da fronteira”  (Christopher Lasch, em O mínimo eu)

 

Muitos livros e filmes de ficção científica, elidindo as informações disponíveis sobre as viagens espaciais, difundem a ilusão de que há alguma homogeneidade entre as possíveis viagens interplanetárias e as grandes navegações que permitiram aos europeus colonizar a América, a África  e a Oceania e levar o seu imperialismo à China e à Índia.

Consideremos o que dizem sobre o assunto dois astrônomos de renome: Fred Hoyle e Carl Sagan.

Hoyle, francamente pessimista, afirma que o tempo necessário para descobrir um só planeta apropriado à vida humana vai de 100 mil a 100 milhões de anos. A colonização total da galáxia necessitaria de 100 bilhões de anos, um período superior à história da galáxia, o que é certamente uma impossibilidade total.

Carl Sagan, francamente otimista e entusiasta das viagens no espaço, refere-se apenas às distâncias estelares, sem se deter na questão da procura de planetas apropriados. Considera dois tipos de naves: as não-relativísticas, que viajarão a 10% da velocidade da luz e devem estar disponíveis em poucas décadas; as relativísticas, com velocidade próxima à da luz, que poderão existir dentro de mil a dez mil anos.

As naves não-relativísticas gastarão 43 anos para viajar a Alfa-Centauro. Para viagens além das estrelas mais próximas, Sagan imagina duas possibilidades: 1) naves de multigerações, de modo que os que chegarem a um planeta ou a uma outra estrela serão os descendentes remotos daqueles que iniciaram a viagem séculos antes; 2) um meio seguro de hibernação para seres humanos, a fim de que os viajantes do espaço possam ser congelados e despertados séculos depois.

Em uma nave relativística, com velocidade próxima à da luz, os relógios a bordo e até a nossa idade biológica quase param no tempo. Em princípio, poderíamos circunavegar o universo conhecido num período de 56 anos, medido nos relógios da espaçonave. Quando retornássemos, teriam se passado, efetivamente, dez bilhões de anos, e acharíamos a Terra como cinza de carvão e o Sol morto.

O vôo espacial relativístico torna o universo acessível às civilizações adiantadas, mas somente para os que vão na viagem. Os demais nem sequer serão informados, pois, não há como fazer a informação voltar ao que ficou para trás de modo mais rápido que a velocidade da luz.

Do que diz o pessimista Fred Hoyle ou o otimista Carl Sagan, o que se depreende é que as viagens interplanetárias são de gênero inteiramente diferente das nossas viagens aqui na Terra.

 

 
 

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Bibliografia

O universo inteligente – Fred Hoyle, Edit. Presença, Lisboa.

Cosmos – Carl Sagan, Edit. Francisco Alves, Rio de Janeiro.

 

 

 
 

 

 

 
 

03/09/2011