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A esses homens-panacéias, a esses
empreiteiros de todas as empreitadas,
a esses levianos aviadores de todas as
encomendas, se escancelam os
portões da fama, do poderio, da
grandeza, e, não contentes de lhes
aplaudir entre os da terra a nulidade,
ainda, quando Deus quer, a mandam expor
à admiração do estrangeiro.
Pelo contrário, os que se tem por
notório e incontestável excederem o
nível da instrução ordinária, esses para
nada servem. Por quê? Porque "sabem
demais". Sustenta-se aí que a
competência reside, justamente, na
incompetência. Vai-se, até, ao incrível
de se inculcar "o medo aos preparados",
de havê-los como cidadãos perigosos, e
ter-se por dogma que um homem, cujos
estudos passarem da craveira vulgar, não
poderia ocupar qualquer posto mais grado
no governo, em país de analfabetos, só
os ignorantes estarão em termos de o
governar. Nação de analfabetos, governo
de analfabetos. É o que eles, muita vez,
às escâncaras, e em letra redonda, por
aí dizem.
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Agora, o que a política e a honra nos
indicam, é outra coisa. Não busquemos o
caminho de volta à situação colonial.
Guardemo-nos das proteções
internacionais, Acautelemo-nos das
invasões econômicas. Vigiemo-nos das
potências absorventes e das raças
expansionistas. Não nos temamos tanto
dos grandes impérios já saciados, quanto
dos ansiosos por se fazerem tais à custa
dos povos indefesos e mal governados.
Tenhamos sentido nos ventos que sopram
de certos quadrantes do céu. O
Brasil é a mais cobiçável das presas; e,
oferecida, como está, incauta, ingênua,
inerme, a todas as ambições, tem de
sobejo, com que fartar duas ou três das
mais formidáveis. Um povo dependente de
seu próprio território e nele mesmo
sujeito ao domínio de senhores não pode
almejar seriamente manter a sua
independência para com o estrangeiro.
Eia, senhores! Mocidade viril !
Inteligência brasileira! Nobre nação
explorada! Brasil de ontem e amanhã!
Dai-nos o de hoje, que nos falta.
(Trechos
do Discurso aos Bacharelandos de 1920 da
Faculdade de Direito de São Paulo.)
14/11/2006