A
vida
tão
madura,
sisuda,
cuida
para
que
tudo
seja
como
deve
ser.
Estabelece
metas,
recria
a
glória
e
o
fracasso.
São
os
planos
de
Deus,
os
dos
outros,
os
nossos
e
a
habilidade
para
conciliá-los.
Tudo
isso
em
jogo
sempre.
Entusiastas
das
causas
sociais
que
somos,
vamos
cumprindo
nossos
papéis,
para
que
nada
saia
do
controle.
É
assim
que
funciona.
Ora
prazeroso,
ora
sacal,
mas
real.
Qualquer
tontura
é
por
excesso
de
lucidez.
Em
alguns
raros
momentos,
breves
hiatos
no
dia
a
dia
servem
de
descanso,
quando
podemos
nos
dar
o
luxo
da
ausência
para
visitar
um
esconderijo
e
recarregar
as
energias.
De
onde
voltamos
seguros
da
validade
desse
processo
criativo
da
vida.
Pode
ser
uma
foto,
música,
cheiro,
qualquer
coisa.
Cada
um
sabe
os
caminhos
dos
seus
portais
do
tempo.
O
meu
é
um
cuco.
Não
imaginava
tamanha
relíquia
na
parede
da
minha
sala,
mas
ele,
testemunha
de
tantos
momentos
bonitos,
está
aqui,
atraindo
meu
olhar
cada
vez
que
passo.
Por
mais
que
o
veja,
ainda
sinto
a
sensação
infantil
do
frio
na
barriga
de
quem
contempla
algo
pela
primeira
vez.
Profª Sonia Corrêa Melgaço Todos os Direitos Reservados
Angela Stefanelli de
Moraes - Webdesigner
15/12/2012
Difícil a surpresa nos dias de hoje, quando já conhecemos
quase
tudo,
mas
estes
tesouros
nos
garantem
um
brilho
no
olhar.
Não
posso
descrever
o
cuco
nos
termos
técnicos
dos
conhecedores
de
arte,
_adoraria
saber
_,
mas
a
beleza
artesanal
na
madeira
de
tom
escuro
com
suas
folhas
de
parreira
e
passarinho
entalhados
diz
mais
que
termos
e
palavras.
O
valor
afetivo
mais
que
qualquer
outra
coisa.
Num
instante
encontro-me
décadas
atrás,
ainda
criança,
brincando
com
minha
prima
em
sua
casa.
Minha
querida
tia,
dona
do
cuco,
sempre
nos
cercando
de
cuidados
e
atenção.
Nessas
tardes
ficávamos
ansiosas,
esperando
a
hora
em
que
o
cuco
abriria
a
porta
da
casinha
de
passarinho
para
sair
e
cantar.
Minha
tia
vigiava
o
relógio
e
chamava
a
nossa
atenção
para
os
horários
da
aparição.
Era
incrível.
Esse
recanto
da
minha
memória
é
encantado.
Ano
passado,
quando
soube
que
algumas
lembranças
de
minha
tia
seriam
deixadas
com
os
mais
queridos,
não
hesitei
em
pedir
a
minha
prima
o
cuco
para
mim.
Ela
foi
muito
gentil
em
cedê-lo.
Precisava
vê-lo,
como
se,
de
alguma
forma,
através
dele,
pudesse
vencer
a
barreira
física,
ou
metafísica,
e
sentir
tia
Alda
ainda
mais
presente.
Recebi
minha
relíquia
embrulhada
em
plástico
bolha
para
não
danificar
e
guardei
por
uns
dois
meses,
pois
chegara
a
época
de
pintar
a
casa
e
eu
o
queria
majestoso
na
parede.
Não
poderia
submetê-lo
à
poeira,
às
surpresas
de
uma
obra.
No
dia
de
desembrulhá-lo
a
expectativa
do
presente.
Tão
lindo
quanto
antes,
mesmo
sem
funcionar
já
há
um
bom
tempo.
Nada
disso
importava.
Limpei-o
e
encaixei
as
correntes
e
os
pendões,
sem
que
isso
atendesse
ao
seu
funcionamento,
apenas
pendurados
para
que
ficasse
completo.
Lindo,
instantes
depois
de
pendurado,
surpreendentemente,
a
portinha
se
abre
e
o
passarinho
canta
duas
vezes.
Olhares
de
espanto
e
contentamento.
Talvez
os
mais
céticos
encontrem
explicações
diversas
para
o
fenômeno,
mas
eu,
que
já
aprendi
a
perceber
o
que
não
posso
enxergar,
tenho
certeza
de
que
foi
um
sinal.
Minha
tia
havia
gostado
de
ter
um
pouco
dela
em
minha
casa.
É
um
grande
orgulho
pra
mim.