(A primeira Poetisa nascida em terras do Brasil)
(1696-1718)

 

 

 

 

 

 

             

               Quase no olvido de todos os que se interessam pelas coisa de cultura, jaz o nome da primeira poetisa brasileira.

               O descaso que havia no passado e que ainda hoje existe pela literatura feminina parece uma prevenção contra as mulheres de espírito.

               Norberto, no seu livro Brasileiras célebres”, publicado em 1860,diz: “ Pernambuco, a província heróica, pátria de tantos filhos beneméritos,deve ufanar-se de poder contar, entre os nomes de seus filhos ilustres, o da jovem Rita Joana de Souza, que muito honrou as belas artes e as belas letras, e de cujo talento fazem referências inúmeros autores famosos."

               Nasceu Rita Joana de Souza na mais encantadora cidade pernambucana, que o próprio nome diz ser linda, na cidade heróica que serviu de teatro às guerras holandesas,  essa Olinda legendária.

               Poetisa inspirada! A primeira, cronologicamente nascida na terra poética de Santa Cruz, passou a sua mocidade alegre e descuidosa entre as musas, ora fazendo versos, ora pintando a paisagem encantadora de seu Estado.

               A vida lhe correu breve e suave no seio de uma família fidalga. Seu dedicados pais lhe proporcionaram a mais sólida instrução, pondo em suas mãos os livros dos sábios e dos poetas.Nesse ambiente .rico, era-lhe enlevo e passatempo o cultivo das letras.

               Não chegaram até nós os seus poemas, o que é uma pena, pois tantos são os autores antigos que deles fazem menção.Nas buscas dadas aos arquivos públicos e nas relíquias das famílias mais antigas, nada se encontrou.Ouçamos ainda J Norberto:

 

               "Breve correu-lhe a vida, passada tão suavemente no meio de tão desvelada educação, em que tanto se esmeraram seus pais, recreando-se, tanto ela como eles, naquele cultivo doce e sossegado das letras e das artes,à semelhança dum faceiro e travesso regato, que brinca, que saltita, que serpeja, espreguiçando-se por entre as areias e seixos, beijando relva e flores. Mas veio o ano de 1718, e a morte,com  a sua mão mirrada,ceifou tanta flor que começava a desabrochar, tanta esperança que ia realizar-se como se tudo fora um sonho, despenhando-se no fundo do sepulcro apenas na florescente idade de 22 anos!"

           

               Foi um talento precoce o da nossa primeira poetisa. Meteoro brilhante que atravessou o céu tão rapidamente que nem sequer deixou vestígios dessa passagem luminosa...

 

         É a irmã mais velha das poetisas do Brasil, a virgem formosa que está na orla do oceano em Olinda e que precedeu cantando a todas nós , com uma dianteira de quase três séculos e de quem a pátria guardo apenas o nome: Rita Joana de Souza.

         Quem eram seus pais? Quem teriam sido os seus mestres? Ninguém sabe. Como seriam seus poemas? Nada se sabe.

         Que seja o seu nome cultuado por todas as mulheres de letras do Brasil.

         O silêncio e o símbolo do desapreço que pairam sobre a sua obra literária são bem o símbolo do desapreço em que ainda hoje é tida a inteligência das mulheres, às quais, aqui como em todas as partes do mundo, vão abrindo caminho em todos os setores das atividades humanas , indiferentes à coorte dos que fingem ignorar o seu esforço.

 
     
 

                                 Adalzira Bittencourt

                 (Fonte:Anuário das Senhoras  - RJ- 1944)

 
 
     

 

 

 

 

13/03/2006